sexta-feira, 2 de julho de 2010

Wavin flag...

Falar da África, uma missão um tanto quanto difícil, porém inspiradora, um continente grande e com uma diversidade étnica e cultural impressionante, um povo, que antes de ser colonizado não possuía países, tinha a liberdade para migrar, plantar e caçar para sobreviver, idiomas e costumes diferentes. A forma de separação dos territórios era feita através de reinos, que por sua vez eram divididos em aldeias, distritos e províncias, onde reis e súditos mantinham boa relação. Claro que lá também não era o céu na terra, houve servidão, o mais rico mandando no mais pobre, toda história tem a sua parte de tirania, mas nunca chegou perto do inferno que se tornou após a chegada dos europeus.
Desde a colonização, a África é mais da França, Reino Unido, Estado Unidos, entre outros, do que dela mesma. Durante mais de três séculos foi o celeiro de mão de obra escrava, a horta e a mina de ouro de seus colonizadores, seus líderes até então tão humanos e de boa relação se aliaram aos algozes e trocavam africanos por mercadorias, vivendo o capitalismo comercial do século XV ao XVIII e depois disso tornou-se subordinada economicamente, fornecendo matérias-primas e produtos agrícolas manufaturados, pode-se dizer que a situação da África é a mesma desde a colonização, excluindo apenas o fornecimento de escravos.
Falando assim, parece que tudo se passou há muito tempo, mas não, a “descolonização” da África ocorreu apenas entre 1957 e 1990, seguindo o exemplo de Gana que pregava uma África unida e socialista (sempre tem um socialista no meio, impressionante!), desde então ela se divide em 53 países ou estados nacionais.
Obviamente, não teria como relatar de forma breve a história do continente africano, então decidi me apegar mais a África do Sul, sede da Copa do Mundo, tido como um dos países mais desenvolvidos, o incrível é que realmente é, com seus guetos, com a maioria da população desempregada e o racismo ainda muito presente.
Foi na África do Sul que ocorreu a luta contra o apartheid, que colocava a minoria branca em um pedestal enquanto os negros, donos por direito do campinho, olhavam de fora, servindo os bonitos, amparado por lei, o apartheid durou quase 50 anos e só foi extinto quando Mandela foi eleito presidente na primeira eleição multirracial da África do Sul. Talvez muitos não se lembrem ou nem tenham conhecimento, o que não se pode julgar, apenas digo, leiam sobre Mandela, procurem saber a história de vida dele e depois me digam se tudo é possível ou não.
No momento que vencem o apartheid parece que tudo vai melhorar, mas as estatísticas não mostram bem isso, o comando das empresas transacionais ainda é expressivo na África do Sul, sua população dominada pela minoria branca e por países ricos é assolada por fome, corrupção governamental, doenças e epidemias, pobreza e miséria, atraso econômico, científico e tecnológico, população sem poder aquisitivo e por conseqüência fora do mercado.
Um país, assim como os demais de seu continente, possui elevada taxa de natalidade, população jovem, entretanto desqualificada, desacreditada. A mortalidade é altíssima, chego a pensar no ditado que diz: “Cada vez que você respira nasce um chinês.” – talvez cada vez que você pisque morra um africano, e pelos motivos mais banais para que uma vida acabe.
Decidi escrever sobre a África devido ao fator copa do mundo, pois me questionei muito a respeito da origem do dinheiro para tamanha ebulição de construções e preparações em um país onde a miséria é tão gritante, e durante a copa acompanhando as reportagens, vi o impressionante bom humor dos africanos e a sua esperança em dias melhores, a alegria deles em serem vistos pelo mundo, a questão é: O mundo vai ver a África depois da copa? Ou só a Jolie vai continuar indo lá? Por que sediar uma copa e gastar bilhões pra encher os olhos dos outros ao invés de encher a barriga de seus conterrâneos? Quantos africanos têm dinheiro para pagar um ingresso para os jogos? Li que após a copa os estádios se tornarão uma espécie de escolas...havia pensado em algo como condomínios residenciais, já que o que os cerca são guetos, favelas falando o nosso bom português. Mas se a ideia é investir em ensino, torço para que seja feito de fato! Pessoas que mesmo depois de tanto tempo sendo açoitadas ainda riem, cantam e dançam, merecem a chance de ter uma vida diferente. No início torci para que houvesse uma grande manifestação dos africanos, para que o mundo inteiro visse como as coisas funcionam por lá, mas hoje vejo de outra forma, eles se mostram cordiais, claro que houve roubos entre outras coisas, afinal quem tem fome, tem pressa, mas me refiro a parte bonita dessa copa, um país subdesenvolvido, desacreditado, berço de façanhas, no foco, eles merecem! Aos africanos, toda minha admiração e carinho.

Aos interessados, posto aqui o poema que manteve Mandela lúcido durante 28 anos preso em uma cela 2x2m:

De dentro da noite que me cobre,
Negra como a cova, de ponta a ponta,
Eu agradeço a quaisquer deuses que sejam,
Pela minha alma inconquistável.

Na cruel garra da situação,
Não estremeci, nem gritei em voz alta.
Sob a pancada do acaso,
Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Avulta-se apenas o Horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.

Um comentário:

  1. como diria uma cantiga de fagner que relata um pouco sobre essa desigualdade social que nos acompanha desde sempre, ele diz : quem é rico mora na praia, mas quem trabalha não tem onde morar, quem não chora morre com fome e quem tem nome joga prata no ar!!! ô tempo duro....
    essa expressão já diz tudo.

    Vivemos em tempos difíceis, tempos de apartheid na saúde, na educação, na vida -quem tem dinheiro pode, quem não tem... se fode! isso é uma vergonha!!!
    Era de aquarius que venha, mas que não seja pra deixar a população mais alienada e miserável....

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